Porto Design Biennale 2023

Apresentada a identidade institucional da bienal

A receita para a imagem institucional da Porto Design Biennale inclui soluções tipográficas ilimitadas e diversas.

O designer Andrew Howard foi convidado a desenhar a identidade gráfica da Porto Design Biennale e da edição de 2023 do evento. Por sua vez, este convidou o colega de design e ensino, André Cruz, para se juntar a ele. Juntos, desenvolveram a identidade gráfica geral do evento, seguindo uma abordagem que combina soluções tipográficas ilimitadas e diversas. Uma escolha ponderada que reflete o caráter exploratório e questionador da Porto Design Biennale, ao mesmo tempo que transmite o sentimento de pluralidade e alegria que o evento promove.

Concepção da identidade geral da Porto Design Biennale

Andrew Howard & André Cruz

Por norma, o propósito de uma identidade gráfica é duplo: representar visualmente o nome de uma entidade ou evento (através do desenho de um logótipo ou cabeçalho), e criar uma linguagem visual através da qual esta se dirige a um público. Estes dois objetivos têm uma mesma finalidade – produzir uma comunicação distintiva e, por conseguinte, reconhecível.

O projeto para a Porto Design Biennale envolve duas identidades gráficas. A primeira é a identidade geral, a voz institucional, que prevalece independentemente do tema de cada edição. A outra é a identidade gráfica de uma edição específica, que tem como objetivo representar o tema escolhido pelo curador. É sobre a primeira que nos vamos debruçar, já que a identidade deste ano, dedicada ao tema "Ser Água" está ainda em desenvolvimento. 

Foi-nos feito um pedido – não usar o acrónimo PDB mas sim a designação completa da bienal. Em resposta, começámos por analisar a composição de cada palavra. As três palavras juntas contêm dezanove letras. Treze delas surgem uma vez e apenas quatro se repetem. 

Concluímos, então, que a variedade de glifos contidos nas três palavras era insuficiente para que um tipo de letra específico se destacasse e se tornasse visualmente distinto como logótipo. Além disso, não encontrámos nenhum critério relevante para justificar a escolha de um tipo de letra em detrimento de outro. Também não poderíamos, apesar de o termos considerado, justificar o desenho de um tipo de letra específico.

Avançámos então para a construção do nosso próprio parâmetro: evitar uma solução que dependesse da escolha de uma fonte tipográfica específica. De uma forma muito prática, esta abordagem adequou-se e melhorou a forma como desenvolvemos o design deste projeto. Ao evitarmos o dilema auto-imposto da escolha de um só tipo de letra e ao substituiu-lo por uma pluralidade de escolha, o resultado é uma solução em que não há decisões certas ou erradas, há simplesmente alternativas e, em vez de uniformidade, há variação e diferença. 

Porto Design Biennale Institutional Identity

No entanto, a receita não se aplica apenas à vasta seleção de tipos de letra, aplica-se também ao que fazemos com ela. Convencionalmente, os tipos de letra funcionam em eixos horizontais e verticais – hastes verticais e cruzes horizontais, e assentam numa construção horizontal. A receita que criámos implica alterar o ângulo dos tipos de letra, aplicando uma "inclinação" e um "declive": tilt & slant. A visão humana é particularmente boa a identificar estes desequilíbrios, daí termos mudado o ângulo do tipo de letra para, de forma simples, criarmos uma provocação na forma como lemos. Acreditamos que esta perturbação é suficiente para ser visualmente diferenciadora. 

A receita consiste em rodar e inclinar o bloco tipográfico 10 graus, o  que permite que, embora inclinado, continue num alinhamento vertical. Para apoiar a identidade, fizemos uma seleção de tipos de letra composta pelo maior número possível de fontes “open source”. Esta paleta não está, nem estará, completa, sendo a sua expansão sempre possível.

Outro elemento que completa os parâmetros da identidade é a cor. Idealmente, e sempre que possível, a cor deve ser proveniente do papel (ou do material sujeito a impressão) e não impressa. 

Na tarefa de dar uma voz (visual) à Porto Design Biennale, fomos guiados por vários objetivos. Estes basearam-se nas nossas ideias e perspetivas sobre o que uma bienal de design poderá ou deverá ser, enquanto evento cultural e social, e como se pode projetar no imaginário da comunidade em que está inserida. Ao perspetivarmos a bienal como exploratória e questionadora, imaginámo-la também como positiva e – porque não? – alegre. Características estas que também abraçam o sentimento de pluralidade e diversão.

Estas vontades estiveram na origem da concepção desta “receita”. Foi precisamente por isso que optámos por uma receita e não uma solução fixa; que optámos pela escolha de soluções tipográficas ilimitadas e diversas. A Porto Design Biennale tem um objetivo singular. Cada edição não deixa, no entanto, de conter muitas vozes. É esta outra das razões porque a sua identidade é agora expressa através de múltiplos tipos de letra e cores.

Andrew Howard é um designer gráfico britânico, professor, curador e escritor de design, que vive em Portugal desde 1993. É fundador do premiado Studio Andrew Howard, especializado em trabalhos de design editorial e de exposições para instituições culturais e educativas. Em 2009, desenvolveu e tornou-se diretor do Mestrado em Design de Comunicação na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) no Porto, onde leciona desde 1993. Na ESAD foi curador da série de conferências internacionais Personal Views que, entre 2003 e 2013, reuniu mais de 50 dos principais designers e professores de design do mundo num fórum único para discutir as novas fronteiras da prática do design contemporâneo. É um dos signatários originais do Manifesto First Things First 2000 e escreveu para inúmeras publicações internacionais de design internacionais de design, incluindo a revista Eye, Adbusters e o site de crítica cultural Design Observer. É membro da Sociedade Internacional de Designers Tipográficos.

André Cruz é um designer premiado, educador e podcaster do Porto. A sua prática no andrecruz.studio tem-se centrado sobretudo no design de identidade e trabalho editorial para instituições culturais. Nos seus 20 anos de experiência em design gráfico, trabalhou com o Primavera Sound, Casa da Música, Teatro Nacional de São João, Porto/Post/Doc e co-fundou o Studio Dobra em 2014. Em 2021, começou a lecionar o Mestrado em Design de Comunicação na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) no Porto. Em 2020, em pleno início da pandemia, iniciou o Sumo, um podcast dedicado ao design e à cultura visual. Foi também curador do programa Vozes do Atelier da edição de 2021 da Porto Design Biennale.